Sombrinha, bamba projetado no Fundo de Quintal, fica sob os holofotes no show especial dos 50 anos de carreira
26/08/2025
(Foto: Reprodução) Sombrinha celebra 50 anos de carreira com show programado para 8 de setembro na casa Vivo Rio
Leo Aversa / Divulgação
♫ ANÁLISE
♬ Parceiro de Arlindo Cruz (1958 – 2025), Jorge Aragão e Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008), entre outros bambas cariocas, Sombrinha tem o nome nos créditos de alguns dos mais belos sambas lançados desde a década de 1980, transitando com naturalidade pelo partido alto e pelo samba mais dolente, poético e melódico.
Basta citar Ainda é tempo pra ser feliz (1988), Além da razão (1988), Alto lá (2000), Fogo de saudade (1986), Malandro sou eu (1985), Mutirão de amor (1983), Não quero saber mais dela (1984), O show tem que continuar (1988), Oitava cor (1988) e Só pra contrariar (1986) para que fique evidenciada a inspiração e a grande contribuição do compositor ao cancioneiro do samba.
Contudo, por caprichos do destino e/ou do mercado, Sombrinha quase sempre ficou à sombra do sucesso dos parceiros mais carismáticos e vocacionados para o palco, casos sobretudo de Arlindo Cruz e Jorge Aragão, bambas que demoraram anos para fazer sucesso como cantores, mas que se consolidaram no mercado de shows.
No próximo dia 8 de setembro, sob direção artística de Diogo Nogueira, Sombrinha ficará sob os holofotes principais da casa Vivo Rio no show especial em que comemora 50 anos de carreira, iniciada em 1975, aos 16 anos, como músico de casas noturnas e, a partir de 1977, como músico de estúdio.
Prestes a celebrar 66 anos de vida no sábado, 30 de agosto, Sombrinha nasceu Montgomery Ferreira Nunis – sim, Nunis, e não Nunes, sobrenome bem mais comum – em São Vicente (SP), município do litoral paulista. Mas fez nome quando migrou para o Rio de Janeiro (RJ). Músico autodidata, Sombrinha começou pelo violão e, depois, passou a conciliar o instrumento com banjo e cavaquinho.
Integrante da formação original do Fundo de Quintal, grupo aglutinado desde a segunda metade da década de 1970 e formado oficialmente em 1980, Sombrinha começou a aparecer como compositor em 1981, ano em que teve gravadas por Alcione e pelo Fundo de Quintal as primeiras das mais de 400 músicas do artista que ganhariam registro fonográfico ao longo dos últimos 44 anos.
O grupo gravou Vai por mim, parceria de Sombrinha com Adilson Victor. Já Alcione pôs voz em Marcas no leito, parceria do compositor com Jorge Aragão e Jotabê (nome artístico do compositor João Batista Alcântara), e nunca mais deixou de gravar Sombrinha.
Como integrante do Fundo de Quintal, Sombrinha figura em todos os discos da fase áurea do grupo, do qual saiu em 1991 para seguir carreira solo pela mesma gravadora, a RGE. No entanto, com o mercado já refratário ao samba de cepa mais nobre dos quintais cariocas, o artista não alcançou sucesso como cantor solo nos dois primeiros álbuns individuais, Sombrinha e Pintura na tela, lançados em 1992 e 1994, respectivamente, com pouca repercussão.
Como Arlindo Cruz tampouco obteve sucesso com o primeiro álbum solo, Arlindinho, de 1993, os dois bambas parceiros decidiram unir forças e vozes em uma dupla, Arlindo Cruz & Sombrinha. Em dupla, eles lançaram cinco álbuns – Da música (1996), Samba é a nossa cara (1997), Pra ser feliz (1998), Arlindo Cruz e Sombrinha ao vivo (2000) e Hoje tem samba (2002) – e, depois, cada um seguiu o próprio rumo.
Só que, enquanto Arlindo foi crescendo no mercado e se transformou em sambista popstar a partir de 2006, Sombrinha permaneceu à margem do mercado, com outro álbum solo lançado sem alarde, Derramando alegria (2003), ao qual se seguiu dez anos depois o incensado (pelos críticos) Matéria prima (2013).
Não há explicação lógica para o fato de Sombrinha nunca ter alcançado como cantor solo a projeção de parceiros como Arlindo Cruz e Jorge Aragão. Talvez tenha faltado aquele indefinível algo mais... Mas ainda é tempo para Sombrinha ser feliz sob os holofotes e celebrar o talento no show orquestrado sob direção de Clarisse Nogueira com participações de Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Nina Wirtti, Sombra – irmão de Sombrinha e parceiro em grandes sambas – e o músico Bebê Kramer. Até porque o que importa é que Sombrinha é bamba e nunca atravessou o samba nesses 50 anos!